O fim do verão e a acne

Sónia Rocha
Diretora Técnica Farmácia Rodrigues Rocha | Bióloga, Farmacêutica e Mestre em Dermofarmácia e Cosmética
(in Diário de Aveiro – Página da Ciência)

Termina o verão, voltam as borbulhas… Saiba mais sobre a Acne!

acne sos edited

“Sinto-me miserável… não acredito que me foi acontecer isto! Logo hoje… porquê? Snif, snif… como é que vou disfarçar esta maldita borbulha, na ponta do nariz?

Hoje, quando finalmente ia tomar café com o Paulo! Há meses que estou à espera que me convide e, logo agora, quando finalmente acontece, eu acordo assim…desfigurada! Com esta maldita borbulha que mais parece um sinal de STOP bem no meio da minha cara, quando o que eu mais desejo é que ele avance… porquêêêê???”

— uma adolescente desesperada

Porque és adolescente e algumas borbulhinhas aparecem, é normal. Tem um nome: chama-se Acne.

O que é a Acne?

A acne é uma doença dos folículos pilossebáceos – estrutura existente na pele, composta pelo pêlo e pela glândula sebácea – e resulta, essencialmente, da influência hormonal sobre as glândulas sebáceas. 

A principal hormona envolvida é a testosterona. Não sendo a única interveniente no desenvolvimento da doença, é a hormona mais influente, dado estar diretamente envolvida no aumento da produção de sebo pelas glândulas. 

Esta é a principal razão pela qual esta afeção tende a prevalecer na adolescência, ou seja, em jovens em fase de puberdade. O pico de incidência nas raparigas está entre os 14 e os 17 anos e nos rapazes entre 16 e os 19, portanto um bocadinho mais tarde.

Porque temos Acne?

Esta patologia surge em consequência da ocorrência conjunta de quatro principais eventos: 

  1. Excesso da produção de sebo
  2. Hiperqueratinização celular
  3. Proliferação da Propionibacterium Acnes
  4. Inflamação

Excesso de produção de sebo

O excesso da produção de sebo, como já referido, advém da ação da testosterona na glândula sebácea. A testosterona é convertida pela enzima 5 α-reductase em dihidrotestosterona. Esta, por sua vez, interage com o recetor da glândula, estimulando a produção de sebo.

Este aumento da produção de sebo, embora um fator preponderante na doença, não é, por si só, o responsável pelo desenvolvimento da acne, mas sim da seborreia.

Para que se verifique o aparecimento de lesões que caracterizam esta patologia, é necessário que também ocorram os restantes três eventos acima referidos.

Hiperqueratinização

A fase de hiperqueratinização caracteriza-se por um aumento excessivo de deposição de queratina e de queratinócitos no interior do folículo. 

Este processo dá origem a uma obstrução do canal excretor. Consequentemente, causa um aumento da retenção do sebo no seu interior, originando uma lesão que se denomina de comedão (vulgo pontos negros). 

Os comedões são as primeiras lesões a surgir na Acne. 

Poderão ser negros (comedões abertos, portanto oxidados pelo ar) ou brancos (comedões fechados, permanecem encerrados na pele não sofrendo oxidação).

Proliferação da P. Acnes

Após a formação dos comedões, surgem condições ideais para a proliferação de bactérias no seu interior. A principal bactéria (mas não única) interveniente no desenvolvimento da Acne é a Propionibacterium Acnes

Inflamação

A sua proliferação desencadeia uma resposta inflamatória responsável pelo aparecimento de lesões mais graves, características de um nível mais severo da doença: pápulas, pústulas, quistos e nódulos.

Tipos de Acne

Esta afeção apresenta um carácter evolutivo que pode ser facilmente observável pelas lesões existentes na pele. 

Desenvolve-se inicialmente de uma forma retencional (com o aparecimento de microcomedões), sem carácter inflamatório. Na melhor das hipóteses, esta pequena lesão desenvolve-se para um comedão aberto, permitindo expulsar o sebo para o exterior, sem destruição do folículo. 

No caso de o comedão permanecer fechado, a evolução pode convergir na aparição de pápulas ou pústulas, sendo o cenário de pior prognóstico. 

Assim, é possível definir quatro tipos de acne consoante a sua gravidade: 

  1. comedogénica ou leve, em que praticamente só existem comedões e só na face; 
  2. inflamatória ou moderada, onde já predominam as pápulas eritematosas ou pústulas (mais vulgarmente conhecidas por borbulhas ou espinhas) também somente na face;
  3. pápulo-cicatricial, caracterizada por aparecimento de lesões tipo nódulo acompanhadas de pápulas e pústulas;
  4. Nódulo quisto-cicatricial, a mais grave de todas, onde predominam os nódulos que afetam não só a face, como também o tronco.

Tratamento

A realização de um correto aconselhamento pressupõe o conhecimento dos tipos de acne existentes e, naturalmente, das lesões que lhes são características. 

Só assim é possível indicar um tratamento apropriado, pois este depende diretamente do grau de severidade da patologia e das lesões que temos presentes. 

Sendo uma doença multifactorial, irá exigir um tratamento igualmente complexo. 

Por norma o tratamento passa pela utilização combinada de dermocosméticos e medicamentos.

Dermocosméticos

Os dermocosméticos permitem eliminar as impurezas e o excesso de sebo e potenciam uma hidratação adequada a peles acneicas com efeitos desincrustante e purificante dos poros. 

Medicamentos

Os medicamentos poderão ser diversos, sendo os mais usados:

  • Os antibacterianos (eg. minociclina): para eliminar as bactérias.
  • Os retinóides (eg. isotretinoína): para normalizar a proliferação folicular e diminuir a inflamação.
  • Os hormonais: para regulação da carga hormonal, mais comummente utilizado nas raparigas, recorrendo ao uso da pílula contracetiva.

 

A Acne não é, por norma, limitante fisicamente. Pode, contudo, apresentar um elevado impacto psicossocial no indivíduo.

As lesões faciais e as cicatrizes inestéticas, herdadas de uma acne mal tratada, poderão afetar a auto-estima do paciente, em particular do jovem que, já por si, apresenta uma certa instabilidade emocional inerente à faixa etária.

Desta forma, torna-se premente efetuar um tratamento cujos objetivos sejam eliminar as lesões existentes, travar a evolução da doença e evitar cicatrizes futuras.